número 35 (2) / 1995
Tem o leitor nas suas mãos o VI.º volume de Actas do 1.º Congresso de Arqueologia Peninsular - realizado no Porto em Outubro de 1993 - e corres-pondente ao fasc. 2 do vol. XXXV dos "Trabalhos de Antropologia e Etnologia". Recordamos que, com toda a probabilidade, publicaremos ainda mais dois tomos - VII e VIII - equivalentes aos fascs. 3 e 4, respectivamente, do mesmo volume. Assim, terão hipóteses de publicar os seus textos os autores mais atrasados, que aproveitarem o prazo último de 31 de Dezem-bro de 1994 para envio dos respectivos originais. Qual o nosso objectivo fundamental, a nossa preocupação constante, como responsáveis pela edição rápida das Actas (nos nossos dias, o tempo é um valor capital)? Que elas sejam tão ricas e abrangentes (em temas e perspectivas) quanto possível, não apenas traduzindo o que o Congresso foi, mas o que ele "queria" idealmente ter sido; pois um evento como este vai-se constituindo, na prática, ao longo do tempo, e só se consuma com a publi-cação do último volume dos seus resultados. Mas, decerto, e como é óbvio, nem aí ele se conclui, porque não é determinável o conjunto de acções que esta realização e sua pronta publi-cação irão estimular, a nível particular e geral, por exemplo desde (em parte, admitimos) a realização do II.º Congresso em Zamora em 1996, até à conso-lidação do interesse pela Arqueologia entre um grupo de jovens que, tendo trabalhado nas Actas do Congresso, as têm visto nascer e crescer, e da sua leitura têm decerto aproveitado. É aliás essa responsabilidade para com os jovens, para com os nossos estudantes, uma das razões que nos forçam à manutenção de uma atitude tanto quanto possível activa no campo da Arqueologia - a SPAE (que nos exige trabalho diário), as escavações (penosas de fazer pelo esforço organi-zativo, psíquico e físico, que impõem), os cursos de pós-graduação, o inter-câmbio ERASMUS. Responsabilidade de, como elemento da Universidade do Porto, e como se diz vulgarmente, "não fazer má figura" perante as dezenas de alunos ou estudiosos (pré-doutorados ou já doutorados) que anualmente nos contactam, na ânsia de colherem experiências ou informações para a sua formação ou os seus trabalhos. E, para tudo isto conseguir, em prol de valores em que acreditamos - e que temos como o capital mais precioso que se pode possuir - passamos a vida a solicitar apoios e subsídios, gastando tempo, energia e dinheiro pessoais, desvianda-os do que poderia ter sido uma obra individual mais rica, quantas vezes deparando com as reticências dos nossos interlocutores, alguns dos quais nem sempre atentos (ou de algum modo temerosos?, e nesse caso, porquê?) ao serviço social que assim prestamos. Desinteressadamente? Não, até porque cremos ser essa uma falsa questão. Certamente para aumentarmos um "capital simbólico", que é o que põe sempre as pessoas em movimento... mas, insistimos, procurando acertar esse desiderato com objectivos que transcendem o mero interesse individual, particularista. Às vezes, em Portugal pelo menos, esquecemo-nos de que nenhum projecto se desenvolve sem uma "ecologia mental" favorável, e de que o que mais falta faz à nossa Arqueologia é um "movimento público" (ou, se quiser-mos, mais modesta e pluralisticamente, muitas acções feitas num espírito não individualista) que envolva e galvanize bastante gente em realizações de alcance colectivo. Na solidão, são possíveis pequenos contributos, por vezes até esforçados e geniais; mas, num mundo onde a natureza e a qualidade da informação que se transmite depende intimamente da rapidez com que é transmitida (a "mesma" informação daqui a uns dias ou uns meses já não representa o mesmo "capital" de hoje; informação parada - como o dinheiro -, é informação desvalorizada), e onde os trabalhos a realizar dependem de um enquadramento técnico-institucional que supera os indivíduos, a "arqueologia de autor", ou, se quisermos, o trabalho amador mais ou menos improvisado acaba por ter um curto alcance, causando desgaste e frus-tração. Este Congresso, a que alguns detractores chamaram "megalómano"(!?), tinha esse fim nobre (palavra de certo modo gasta, bem sabemos) em vista, o de fazer algo cujas dimensões, cuja escala, determinassem por si próprias novos patamares mentais de onde ver a Arqueologia portuguesa e ibérica. E, sem esses patamares, fica-se sempre na visão local, que, em si mesma, não tem valor nenhum. Como ainda recentemente afirmava ao jornal "Público" Pedrag Matvejevitch, autor do grande livro que é o Breviário Mediterrânico: "Tomar "a priori" particularidades como valores faz-nos deslizar para os particularismos." Contra todos os fundamentalismos, regio-nalistas, nacionalistas ou internacionalistas, o que está hoje em causa é a defesa do cosmopolitismo mental como atitude capaz de ultrapassar a estreiteza de vistas que conduz à incomprensão e mesmo ao ódio, valori-zando ao contrário a permanente abertura, o confronto de ideias aberto e sereno, a reconstituição ágil do eu pelo diálogo com o Outro. Uma postura includente, não excludente. E se isto parece certo, indispensável, à escala planetária, é-o com certeza também ao nível peninsular. Foi animados desse espírito que nos lançámos nesta "aventura" do Congresso que, hoje, vemos plenamente recompensada. Há dias, desfolhando números antigos da revista Arqueologia - outra "aventura" que, para nós, como tal, durou uma década relembrámos o escri-to no editorial do vol. IX, precisamente de Junho de 1984, intitulado: "É necessário incrementar a cooperação luso-espanhola no domínio da Arqueologia". Continuaríamos a subscrever, a propósito deste Congresso, quase tudo o que aí se diz, apesar de algum cepticismo que a experiência nos vai inevitavelmente conferindo. O mesmo Matvejevitch que acima citámos falava da importância de uma "identidade do fazer" versus uma "identidade do ser". Somos o que vamos sendo capazes de fazer, alargando espaço de manobra no campo social. No domínio específico da Arqueologia ibérica, e no diálogo dos seus interve-nientes, há muito para fazer. Quem não realiza, entra em deficit de ser, do seu ser, de algum modo morre por antecipação. Este Congresso quis ser um passo naquela direcção colaborante - a de contribuir para abrir um espaço cultural ibérico vivo, no âmbito do que mais radicalmente nos constitui: as nossas memórias, a nossa história. No final deste volume poderá o leitor encontrar as conclusões do Con-gresso, e também moções aprovadas na sua sessão final. Entendemos não dever protelar por mais tempo a sua publicação, embora se preveja ainda a edição, como atrás reafirmámos, de outros volumes de Actas, contendo as comunicações/posters chegados à redacção até aos finais de 1994. Porto, Maio de 1994 Vítor Oliveira Jorge Secretário-Geral do Congresso para Portugal |
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Preâmbulo Vítor Oliveira Jorge Arte mueble magdaleniense de la Cueva de la Güelga, Cangas de Onis, Asturias Alberto Martínez Villa, Mario Menéndez Fernández Mesolítico-Neolítico na Costa Sudoeste: transformações e permanências Joaquina Soares La neolitización en las comarcas de Liébana y Polaciones (Cantabria): implicaciones socio-economicas Augustín Diez Castillo, Yolanda Díaz Casado, Goretty Robles Fernández Perspectivas y primeros resultados dei Proyecto Minas Prehistóricas de Gavá (Barcelona) Josep Bosch Argilagós, Alícia Estrada Martin Tecnología minera neolítica a partir del yacimiento de Can Tintorer (Gavà, Baix Llobregat) M.ª J. Villalba, M. Edo, A. Blasco La Calaíta en la Península Ibérica M. Edo, M.ª J. Villalba, A. Blasco Ideas de tierra Christine Boujot, Serge Cassen, Jacobo Vaquero Lastres O câmbio social nos enterramentos do NO. definais do IV a II milénio (Resumo) Antom Fernández Molde Vale de Rodrigo. Projecto interdisciplinar para a investigação do megalitismo numa região do Sul de Portugal Philine Kalb, Martin Höck El fenómeno funerário durante la Prehistória Reciente en el Centro de la Meseta: la província de Guadalajara Pedro José Jimenez Sanz, Rosa Maria Barroso Bermejo Algunos planteamientos sobre el arte rupestre dei Noroeste Peninsular: relaciones y cuestiones de base Antonio Beltrán La vivienda de la Edad del Bronce en el Sureste Peninsular: nuevos aspectos Juan Luis Montero Fenollós O que é a II.ª Idade do Ferro no Sul de Portugal? Ana Margarida Arruda, Amílcar Guerra, Carlos Fabião Monte Romero (Huelva), a silver producing workshop of the Tartessian period (Abstract) Vasiliki Kassianidou, B. Rothenberg La introdución del torno en la Meseta Maria Luísa Cerdeño, Rosario García Huerta El caracter de clase de la sociedad ibérica del Sureste Espafíol y los origenes del Estado Juan A. Santos Velasco La ambivalencia de los símbolos vegetales: el ejemplo de la cerámica ibérica de Elche (Alicante) M. Trinidad Tortosa Rocamora Zoelas e Civitas Zoelarum: uma unidade étnica no quadro da romanização do Noroeste Francisco de Sande Lemos Aprovisionamento de matérias primas líticas nos castros de A Forca e Santa Trega (A Guarda, Pontevedra) Xosé Lois Currás Peleteiro, Juan Antonio Cano Pan Cerâmica comum em Tongobriga Lino Dias Cerámicas y monedas andalusíes: un modelo de datación en epoca emiral A. Canto, M. Retuerce Espacios irrigados de origen andalusí en la Sierra de Tramuntana de Mallorca. El caso de Coanegra Helena Kirchner El Ma'gil de Liétor (Albacete): un sistema de terrazas irrigadas de origen andalusí enfuncionamiento Carmen Navarro O sistema hidráulico do Vale do Huecha sob o domínio do Mosteiro de Veruela (Aragão) Simone Teixeira Castro Laboreiro - Serra da Peneda. Sistemas de povoamento e ocupação do espaço Alexandra Cerveira Pinto Sousa Lima Projecto Gravado no Tempo - Portugal - Inventário total da arte rupestre. 1991 -1993 Mila Simões de Abreu, Ludwig Jaffe Nuevas aportaciones arqueobotánicas al conocimiento del paisaje megalítico en el Noroeste Peninsular. Estudio de fitolitos de la Mamoa 1 das Madorras (S. Lourenço de Ribapinhão, Sabrosa, Portugal) V. Galván, J. Juan, A. Pinilla, J. Galván, A. H. Gonçalves Jazida de Castelo Velho (Freixo de Numão). Elementos arqueozoológicos Miguel Telles Antunes Contenido de mercurio en huesos de animales domésticos y trashumancia E. Logemann, G. Kalkbrenner, B. Krützfeldt, W. Schüle Problemas para el establecimiento del grupo de referencia dei taller de Abella: perturbaciones en el patron J. Buxeda i Garrigós, J. M. Gurt i Esparraguera Los ejercicios de intercomparación en los laboratorios de datación por radiocarbono G. Rauret, J. S. Mestre |