número 58 / 2018 Esta revista (inicialmente designada Trabalhos da Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia, órgão da SPAE), nasceu em 1919, com o fim especial de estabelecer um elo de ligação entre a SPAE e seus sócios e o mundo científico em geral, e também, através de intercâmbio com revistas congéneres, de enriquecer a biblioteca da associação. Nos tempos de Mendes Corrêa, um dos fundadores, e, mais tarde, de Santos Júnior, seu continuador, a SPAE e os TAE estavam intimamente ligados à Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e ao seu Instituto de Antropologia (este hoje extinto). Em 2010 a Reitoria da UP concedeu-nos um espaço para arrumo de publicações antigas (nossas, e as resultantes de intercâmbio), situado num prédio da Universidade, na Praça Coronel Pacheco, n.º 15, no Porto. A partir de Janeiro de 2015, por contrato assinado com a Reitoria da UP, esse espaço passou a ser o da nossa sede, ainda hoje em instalação. De facto, já em 2016, a nossa biblioteca foi doada, em cerimónia pública, à Universidade do Porto, com o fim desta vir a poder tratá-la e a disponibilizá- -la em condições aos investigadores, estudantes, e a todos os interessados; condições essas que nós, como associação, de todo não possuímos. O objetivo é manter esse acervo funcional e homogéneo, e, se tal for possível à Universidade, esta o ir colocando online, para mais fácil acessibilidade. Porém, ainda aguardamos a saída desse acervo da nossa sede, para assim também podermos organizar e utilizar melhor o nosso espaço disponível. Foi-nos prometido que tal ocorrerá ainda neste ano, para nós muito significativo, de 2018.
A verdade é que os Trabalhos de Antropologia e Etnologia se foram tornando uma revista de referência, nomeadamente a partir de 1997, ano em que eles ganharam novo aspecto gráfico, dinâmica e conteúdo. De facto, assumiram por inteiro o seu carácter interdisciplinar e transdisciplinar, adentro do vasto campo das chamadas ciências sociais e humanas. Sem dúvida, apesar de todas as dificuldades, e nomeadamente a partir da renovação da SPAE, os TAE deram lugar e voz a uma grande diversidade de autores, muitos deles jovens, e publicaram estudos de investigadores consagrados, marcando um espaço próprio adentro das publicações periódicas científicas, anuais, portuguesas, de ciências sociais e humanas, indo portanto para além do exclusivo campo da antropologia social ou cultural, mesmo tomada no seu sentido alargado. Os temas que obviamente nos importam são todos os que de algum modo contribuam para compreender melhor o ser humano e a sociedade, em toda a sua imensa complexidade. A partir de 2012 inclusive optámos por esta solução de revista em linha (online), de acesso gratuito e livre, que chega a um numeroso, infinitamente maior, conjunto de leitores. Cremos que o presente volume é um dos mais interessantes até hoje publicados, até porque inclui um dossiê aliciante, graças à colaboração dos nossos colegas e amigos do ISCTE, Professores Jorge Freitas Branco e António Medeiros, que muito agradece-mos. Entretanto estamos a celebrar o Centenário da associação e mais uma vez convidamos todos os colegas e interessados a fazerem-se sócios da SPAE, reforçando uma instituição prestigiada, mas, hoje, com apenas algu-mas dezenas de associados... necessitamos de pessoas que disponham do espírito generoso e dedicado que é intrínseco ao trabalho voluntário, cuja “recompensa” é o prazer que dá a quem o faz. Cordialmente apresento de novo aos leitores os nossos votos de boas leituras. Vítor Oliveira Jorge Director da revista |
(Clique na imagem para download do volume 58 da revista TAE)
Preâmbulo
Os organismos, a sensibilidade e a origem das mentes. Conciliando Biologia e Psicologia Marina Prieto Afonso Lencastre Inteligibilidade, dualidade. O sentimento de inteligibilidade em Fernando Gil Inês Sousa Medo, morte e música João-Heitor Rigaud Matrilinearidade e cultura(s) na Índia contemporânea: das culturas tribais à Etnografa e à Etno-Literatura – identidade cultural e representações sociais da “mulher” na sociedade e na cultura indianas Ana Paula Fitas A religiosidade afro-brasileira na história do Rio Grande do Norte no início do século XXI: intolerância contínua versus resistência crescente Geraldo Barboza de Oliveira Junior Arqueologia, Pré-história, Psicanálise: algumas considerações em torno da liberdade de saber Vítor Oliveira Jorge Primitivos Somos Nós Vítor Oliveira Jorge DOSSIÊ ENREDOS IBÉRICOS: COMIDAS, RITOS, POLÍTICAS DE PATRIMÓNIO Introdução Jorge Freitas Branco, António Medeiros Algunas paradojas de la modernidad alimentaria Jesús Contreras As leguminosas: da obscuridade à celebração José Manuel Sobral Entre o lacón con grelos e o festival do cabrito: usos da memória e novas funcionalidades nos entroidos galegos Paula Godinho Comidas para turistas, comidas para nativo Pedro Tomé Nota aperitiva. Elogio da lentidão. A imparável marcha dos caracóis rumo ao Norte de Portugal: gastronomia estival e fronteiras culturais Jean-Yves Durand Mesa y reproducción: la gran metáfora que vincula dieta y fertilidad masculina Consuelo Álvarez Plaza Entre abundância e insegurança alimentar: soja e processos de globalização Virgínia Henriques Calado Culinary Resistance? Brian Juan O’Neill Comida, comensalidade e reclusão. Sentidos do que se (não) come, como e com quem numa prisão portuguesa Manuela Ivone Cunha Comer e beber as paisagens: alimentação e turismo nos restaurantes de Vila Real Xerardo Pereiro, Manuel Luís Tibério, Vítor Rodrigues Alimentación fitness. Notas etnográfcas sobre salud, cuidado e ideología Lorenzo Mariano Juárez O corpo que come: comida, visualidade e turismo (Portugal, 1969-72) Sofia Sampaio Comida y sexualidad en cartas postales de amor Julián López García Clausura globalizada: os ejemplos de interacción ontemporánea a través de la alimentación en congregaciones femeninas Elena Freire Paz “Andamos todo o ano a trabalhar para a festa”: festa e dádiva no bodo de Monfortinho Eddy Chambino O bodo de Salvaterra do Extremo: saberes e rituais Vasco A. Valadares Teixeira Del gusto de ambigú al necrogusto en el Puerto de Veracruz (México) Juan Antonio Flórez Martos Cantinas coloniais e o vinho português na capital de Moçambique Nuno Domingos Parajes deleitosos. Paisaje, mesa y evocación poética: ruedos, chacras y huertos Pedro A. Cantero O Ciclo Pascal em Idanha-a-Nova António Silveira Catana Patrimonialización de la misa asturiana de gaita, Bien de interés cultural Ángel Medina Semana Santa de Ávila: patrimonio y turismo María Cátedra Coentros e garam masala. Passar fronteiras académicas através da cozinha Rita Ávila Cachado Património à mesa dos macaenses em Portugal Marisa C. Gaspar Um relato etnográfico sobre imaterialidades dos Luso-Bnei-Anussim no Nordeste português Marina Pignatelli ‘Lembranças da Terra’. Notas para uma etnografIa da produção de artesanato nas cidades do Mindelo e da Praia, Cabo Verde Eduarda Rovisco Consumir y consumar naturaleza. Prácticas turísticas en la naturalización de la Sierra de Aracena Esteban Ruiz-Ballesteros Do prato ao reconhecimento público: o menu das confrarias gastronómicas Luis Cunha De politica, religión y distopia Enrique Luque |