número 49 (1-4) / 2009
Como se sabe, os "Trabalhos de Antropologia e Etnologia" são uma revista anual que, partindo da antropologia (social ou cultural, como se queira) como matriz, tem, desde há uns bons anos a esta parte, uma linha editorial assumidamente interdisciplinar e, sempre que possível, trans-disciplinar.
O objectivo é obviamente o de promover o esbatimento de barreiras entre as várias ciências sociais e, mesmo, entre estas e as "humanidades" em geral, se é que esta palavra tem algum sentido para cobrir tudo quanto se refira ao conhecimentodo ser humano e, por conseguinte, também das suas actividades expressivas e estéticas que, habitualmente, designamos "artes". E isto apesar de estarmos num momento de grande agitação problemática, de "mudança da história" em muitos sentidos, desde que nos inícios do séc. XX as características da modernidade, tal como o séc. XIX as tinha implantado (e com elas as ciências sociais, obviamente) entraram em crise, que hoje se adensa em tantos sentidos que é praticamente impossível fazer o seu balanço. Todos fomos educados sum sistema em árvore, de afunilamento progressivono sentido da especialização. Saber fazer alguma coisa bem, ou saber algo bem, era ter um "emprego"/"ocupação" assegurados. E portanto ocupar um nicho próprio numa economia de identidades estáveis. Essa época é hoje passado. Mas nesta espécie de confusão em que nos encontramos, novas linhas e ambientes de informação, de intercâmbio, de cruzamentos, de problemáticas totalmente inéditas na história se nos deparam, e nos desafiam. As tecnologias, sabemo-lo bem, não são apenas meios novos para difundir conteúdos minimamente estáveis, domínios científicoscom objecto próprio, incluído dentro de muros disciplinares. Elas criam realidades jamais vividas antes por outros seres humanos que até certo ponto assimilamos a nós, e que queremos conhecer, para nos conhecermos, para nos orientarmos nesta turbulência, típica do capitalismo tardio, sistema que saltou por cima das barreiras de controlo dos Estados e mesmo do embrionário "direito internacional" para nos colocar numa situação de espanto quotidiano. As "sociedades científicas" como a que publica esta revista faziam mais sentido no séc. XIX ou nos começos do séc. XX do que hoje, onde as formas de encontro e de divulgação do que se pensa e investiga sã já completamente distintas. Mas, é possível renovar "por dentro" o antigo, um pouco à semelhança da arquitectura, em que (ao contrário do que tanto se faz em Portugal), a ambiência dos sítios se mantém, modernizando-se as suas "funcionalidades". Isso é desejável. E é nesse diálogo, que julgamos fecundo, porque recolhe, transforma, e dinamiza uma herança, em sentidos múltiplos, que se pode gerir um património, não deixar morrer espaços que se forem reactivados, ainda continuam a ter uma missão, mesmo que modesta, a cumprir. Assim o compreendam aqueles de quem depende este espaço de manifestaçãocultural, os sócios da Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnolopia, os leitores da revista, e as entidades que nos acolhem (Universidade do Porto) e apoiam. Porto, Março de 2009 Vítor Oliveira Jorge Director da revista |
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Preâmbulo O que é o Homem? Anotações sobre a fronteira e os limites da humanidade A. Bracinha Vieira Representações ocidentais da família e do parentesco. Diversidade e variabilidade dos tipos de família nas sociedades humanas Armindo dos Santos Uma perspectiva do morgadio no feminino em Portugal Judite Maria Nunes Esteves El arte del etnógrafo. Alfred Métraux y los Cipaya de Carangas de 1930-1931 Pablo F. Sendón Viver com leões. A coexistência entre humanos e biodiversidade no W. do Níger. Os Gourmantché João Pedro Galhano Alves O Museu de Etnografia e História do Douro Litoral: etnografia e museologia na construção do Douro Litoral Maria do Rosário Correia Pereira Pestana Formação, conhecimento e profissionalização: perspectivas para a próxima década Luíz Oosterbeek Evolução da estatura adulta em povos que habitaram o território português desde o Neolítico Hugo F. V. Cardoso, José E. A. Gomes Armando da Silva Carvalho: primo de Alexandre O'Neill? Carlos Nogueira A sátira na poética e na poesia de Jorge de Sena Carlos Nogueira Da obra instalada ao espaço ocupado. O caso Unilever Series (Tate Modern, Londres) Fernando José Pereira O prazer de consumir Isabel Cruz Fragmentos contingentes do bloco-notas de um nómada Vítor Oliveira Jorge DOSSIER O TEMPO E A MÚSICA A construção da Identidade de um Artista - O Tempo e o Poder do Sagrado nos Dons da Criação Musical Henrique Luís Gomes de Araújo Breve nota de apresentação de Música e Letras Barrocas na Europa e nos Andes. Ensaio de Antropologia Social, de Raul Iturra Redondo (lembrando uma realização conjunta da SPAE e da APA) Henrique Luís Gomes de Araújo Luís Costa, un musicien à l'aube du 20.ème siècle Bruno Belthoise Recenção. A evolução do Darwinismo, António Bracinha Vieira, Editora Fim do Século, Lisboa 2009 Pauio Gama Mota Recensão. Do Aforismo à Iluminação: variações sobre os epífanos "acendimentos" da poesia de Vítor Oliveira Jorge Fátima Vieira |