número 40 (3-4) / 2000
Aqui estão os fascs. 3-4 dos TAE de 2000. Parafraseando José Gomes Ferreira ("viver sempre também cansa"): escrever prefácios, por rotineira obrigação, fatiga. Sobretudo se não se tem muito a certeza de que o seu conteúdo venha a encontrar algum eco - quer esse conteúdo seja sobretudo informativo, circunstancial, quer procure ser reflexivo, e portanto um pouco mais ambicioso. Um preâmbulo, porém, é algo de importante: abre uma obra, é rapidamente lido, pode deixar uma mensagem incómoda, no que diz ou insinua - no bom sentido de "incó-moda", naturalmente. É evidentemente um pequeno espaço nessa rede imensa de jogos, de partilhas e de disputas que se tece no âmbito dos "poderes culturais". Seria diferente se, nos TAE, publicássemos volumes temáticos - aí, sim, esses teriam que ter uma introdução "substantiva" por parte do respectivo "editor" (no sentido inglês); e gostaríamos muito que tal acontecesse. Mas, com as nossas condições "artesanais" de produção, seria uma utopia. De facto, os TAE vivem essencialmente dos artigos que permanentemente lhes vão sendo propostos. Outro caminho seria inviável, num "empreendimento" que funciona em bases não lucrativas como este, e que tem por obrigação editar um tomo cada seis meses. Não podemos fazer "encomendas" de certos temas a determinados autores... mesmo aceitando o que de quali-dade nos vão enviando, temos de exercer uma constante "militância" persuasiva junto dos potenciais colaboradores - agora facilitada pela Inter-net - para que estes volumes cheguem regularmente aos sócios da SPAE e demais leitores. Convencidos de que manter viva a SPAE é, antes de tudo, publicar regularmente os TAE, prosseguimos. Qualidade e continuidade são as nossas duas únicas "bitolas" - seguros de que o que é importante num processo não é só dar-lhe arranque (os entusiasmos temporários são sempre fáceis, e às vezes até "heróicos"), mas - o que custa muito mais - assegurar-lhe a sustentabilidade. Iniciativas, sim, mas a sua manutenção, eis o que é capital, o que faz a diferença - o que perdura. Isso implica uma disciplina tremenda e, dentro do "artesanal", um certo "profissionalismo". De boas revistas com vida efémera está a história da "cultura" feita - e não será um dos seus aspectos mais entusiasmantes. Sabemos que esta activi-dade de "editing" não é tão respeitada em Portugal como deveria - pede-se muito mais a um professor universitário que publique livros de autor do que dirija revistas, embora não se veja onde está a contradição - mas, até nisso, cremos que a nossa persistência ("exemplo" será talvez demasiado presun-çoso) poderá contribuir para difundir outra mentalitdade. Se uma revista espelha o que se pensava há uns meses atrás, um livro reflecte o que se cogitava uns anos antes ~ ora, ambas as dinâmicas são precisas. E agora temos a Internet para o que vai surgindo no dia-a-dia, continuando a faltar (para um "ritmo" intermédio) aquele tipo de revistas de divulgação cientifica como a francesa "Sciences Humaines", que implica evidentemente já uma estrutura empresarial por detrás. Estas revistas são capitais para formar um público, e isso é um processo lento, pelo que, para ultrapassar o nosso atraso, seria preciso ter começado já! Por outro lado, a um certo silêncio que "nos" rodeia - que rodeia aqueles que procuramos "deixar alguma coisa feita", que perdure sob a forma de palavra escrita e impressa - dá às vezes vontade de responder com o silên-cio, ou com uma extrema rarificação do discurso. Por isso, desta vez, sejamos sucintos, manifestando apenas: ~ A nossa gratidão em relação às entidades apoiantes, e aos autores que na revista colaboram, ajudando os TAE a tomar-se, progressivamente, numa das publicações periódicas portuguesas de referência no seu domínio, as ciências sociais e humanas; ~ A nossa expectativa de que "muitos dos chamados" por nós ao longo dos últimos anos se venham juntar à lista dos "autores dos TAE" - nós queremos que sejam também muitos "os escolhidos". O nosso desejo seria o de continuar a alargar as nossas redes de contacto no âmbito ibérico, nos países de expressão portuguesa, e latino-americanos. Enquanto damos continuidade a esta obra colectiva, outras têm prosseguido em 2000, como a "4.ª mesa-redonda de Primavera" (com a cola-boração de uma outra associação, a ADECAP), sob o título genérico de "Por Uma Terra Habitável - Ambiente, Cultura e Desenvolvimento", que decorreu no Porto em Março de 2000, e que será editada em livro. E, se preparamos já a 5.ª dessas mesas-redondas (de novo em parceria com a ADECAP), sobre "Identidades, Identidades" (Porto, 30 e 31 de Março de 2001), teremos ainda, na mesma cidade, em 6 e 9 Outubro de 2000, como conferencista, o etnólogo francês Alain Testart, do Laboratoire d'Anthropologie Sociale (Paris). Tal como nos TAE, a "entrada" é livre - organizamos para si, esperamos por si, e ainda agradecemos a sua presença, seja como espectador/leitor (ou sócio, já agora!), seja como auditor/participante. Quer mais? Consigo, leitor(a) anónimo(a), com a sua participação, talvez canse menos viver, dirigir associações, coordenar revistas, seduzir/convencer (trabalho árduo, deuses meus) patrocinadores, ir buscar alguns recursos para os pôr ao serviço de uma vida melhor, mais saborosa e estimulante - porque partilhada. Porto, Maio de 2000 Vítor Oliveira Jorge |
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Preâmbulo Identidades sociais e apropriação do espaço: o património como conceito identitário Paula Mota Santos Jano às Portas do Milénio. O Sujeito na construção social do Cidadão Henrique Gomes de Araújo O que é "realidade"? Ensaio de antropologia da educação Raúl Iturra Peuples d'Europe Marcel Otte Continuidade e descontinuidade na Pré-história. Estatuto epistemológico da Arqueologia e da Pré-história Luiz Miguel Oosterbeek Problematizando a Pré-história recente de Portugal (V/-11 milénios A.C.) Susana Oliveira Jorge Las Peñas Sacras como imago mundi del "centro cósmico" en el mundo indoeuropeo y céltico Jesús Jiménez Guijarro Tornar-se arqueólogo no Brasil Pedro Paulo A. Funari Os três principais métodos históricos de cômputo dos graus de parentesco Armindo dos Santos Observadores e observados: a pesquisa etnográfica no campo das religiões afro-brasileiras Vagner Gonçalves da Silva A influência portuguesa na medicina popular do Brasil desde seu descobrimento Maria Thereza Lemos de Arruda Camargo Los significados sociales asociados a la internación psiquiátrica Ana S. Valero V Á R I A A propósito de megalitismo português: duas breves intervenções Vítor Oliveira Jorge |