número 45 (1-2) / 2005
Foi em 1987 que comecei a trabalhar com a Litografia AC, de Braga, onde mais este volume dos TAE é impresso. Foi lá feita, a partir do segundo tomo desse ano, a revista Arqueologia, que eu então dirigia. Foi lá também que acabaram de ser impressos os três volumes da tese de doutoramento da minha mulher e colega, Susana Oliveira Jorge, sobre a arqueologia pré-his-tórica da região de Chaves-Vila Pouca de Aguiar. Até aos fins de 2004, ao longo de 17 anos, a minha relação com o fundador e dono da litografia, Sr. António Candeias, foi de progressiva empatia (aliás extensiva a todos quantos ali trabalham, e em particular ao seu filho e continuador à frente da empresa, Eng. João Candeias), e mesmo de sólida amizade, que só foi interrompida pelo seu falecimento no início de Novembro de 2004, com 68 anos, e em plena actividade na sua litografia, de que tanto gostava e por que tanto lutou. A última vez que o vi foi em minha casa, em inícios de Agosto desse ano, quando veio acompanhar a entrega do anterior tomo dos TAE, os fascs. 3/4 do vol. 44, daquele ano. António Candeias era uma pessoa excepcional, em honestidade, compe-tência, simpatia, tolerância, abertura constante para ajudar, para colaborar. Se tinha algum defeito - porque perfeito certamente não poderia ser - nunca notei. Por isso, ao redigir mais este preâmbulo para os TAE, não consegui deixar de me lembrar dele, de recordar que este é o primeiro tomo da revista que ele já não vai acompanhar. Foi um dos melhores amigos que tive, mas aquando da sua despedida (2.XI.04), o cortejo que se formou em Braga - incluindo bastantes docentes da Univ. do Minho onde prestou serviço após a sua vinda de Angola - foi de molde a mostrar-me que eu não era nenhuma excepção. Havia muita, muita gente que sentiu o desapare-cimento deste grande profissional e trabalhador incansável. Perguntar-se-á que direito tem o director da revista de, a abrir um dos seus tomos - por sinal um dos melhores, mais diversificados e ricos tomos que até hoje demos à luz - apresentar aqui uma dedicatória tão pessoal. Esquecer-se-á quem porventura tal pensar ou sentir de que a Litografia AC não trabalha obviamente só par mim, nem para entidades a que tenho estado ligado, mas para muitas outras, incluindo instituições que têm produzido diversíssimas obras no domínio das ciências sociais e humanas, e da arqueologia em particular, a começar pela própria Universidade do Minho, sediada em Braga. Pelas variadíssimas publicações ali feitas, esta casa impressora está desde já ligada à história da arqueologia portuguesa. Diversas teses de doutoramento foram lá impressas. As Actas do 1.º Con-gresso de Arqueologia Peninsular (Porto, 1993), publicadas ao longo de 1993, 94 e 95 (8 volumes) também. Nomeadamente, sem a sua colaboração empenhada - e em particular de João Candeias - não poderia ter transfor-mado em 10 volumes temáticos, todos com data de 2000, o material caótico que me chegou às mãos como resultado do 3.° Congresso de Arqueologia Peninsular (Vila Real, 1999). Foi um trabalho enorme, que só terminou em meados de 2002! Vemos chegar novas gerações à arqueologia, à antropologia, a áreas do saber emergentes entre nós, e durante muito tempo descuidadas, atrasa-das, ou silenciadas, como a sociologia, a psicologia, e tantas outras. É com grande júbilo que acolhemos aqui trabalho de jovens, ao lado de "gigantes" (como acontece neste volume) da envergadura de T. Ingold ou H. Moore. Para todos este é um espaço aberto. Com o mesmo sorriso com que António Candeias nos acolhia à porta do seu local de trabalho em Braga, e agora nos acompanha a sua memória e a presença viva dos seus continuadores. Porto, Fevereiro de 2005 Vítor Oliveira Jorge |
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Preâmbulo Retrospect Tim Ingold Whatever happened to women and men? Gender and other crises in anthopology Henrietta L. Moore Património? Que património? O património etnológico Armindo dos Santos O perfil profissional do arquivista na sociedade da informação Fernanda Ribeiro Trilhos de Celtas no Noroeste. Crenças etnogenealógicas e novos consumos em Portugal e na Galiza António Medeiros Grafitos literários e Estado Novo Carlos Nogueira Museus e Consumo Sérgio Lira Reflexões sobre o trabalho de um antropólogo numa instituição de engenharia civil Marluci Menezes "Um povo, uma cultura, uma região": a história exemplar da Casa do Alentejo Daniel Melo Identidade Cultural e Intervenção Social - Um Olhar sobre a Comunidade Cigana no Alentejo Ana Paula Fitas Firaku e Kaladi: etnicidades prevalentes nas imaginações unitárias em Timor Leste Paulo Castro Seixas V Á R I A Ciência & comunicação José d'Encarnação Cidade: qualidade de vida e cultura. Alguns tópicos Vítor Oliveira Jorge IIl Congreso Internacional sobre Musealización de Yacimientos Arqueológicos Andreia Machado RECENSÃO "Pensar en el otro entre los huni kuin de la amazonía peruana" por Patrick Deshayes y Barbara Keifenlzeim, IFEA-CAAAP, Lima, 2003, 263 págs. ISBN 9972-608-15-8 Diego Villar "Sobre Alguns Reflexos de Lágrimas Paradas a Meio do Rosto", por Vítor Oliveira Jorge, com fotografias de Danilo Pavone, Porto, Edições Afrontamento, 2004 Daniela Kato |