número 42 (3-4) / 2002
Caro leitor, estimado consócio: como já vai sendo hábito, a primeira parte (fascs. 1/2) do volume dos TAE de um determinado ano (neste caso, 2002) é ainda concebida, realizada e impressa no ano antecedente. Cria-se assim um ritmo, uma dinâmica, que são benéficos para todos, autores, leitores, sócios da SPAE. Se essa dinâmica fosse acompanhada por uma maior interacção entre tais elementos, que inclusivamente se reflectisse nesta revista (por exemplo, o envio regular de trabalhos, notícias, recensões para publicação na mesma), seria de facto o ideal. Uma revista existe como um canal de comunicação, tanto quanto possível actualizado, vivo, actuante - por isso ela tem de sair regularmente... - mas, para que essa comunicação se realize, também necessitamos de sentir a reacção dos leitores e dos sócios ao nosso trabalho, àquilo que aqui semestralmente lhes apresen-tamos. Ora, apesar da publicação ser bem conhecida, de ter a sua distribuição assegurada, de ser enviada para numerosos destinos (nomeadamente para 100 bibliotecas municipais do país), raramente nos chega um eco crítico, construtivo como esperamos, do "produto" que aqui sujeitamos ao vosso juízo. É como se estivéssemos a trabalhar para um certo silêncio. Mas também sabemos que todos os que "produzem algo" sentem isto, pelo menos no curto ou médio prazo; não é nada que seja exclusivo de nós... apenas mostra que muito está por fazer em Portugal, no âmbito da interacção cultural, isto é, de uma "atmosfera" criativa, exigente, estimu-lante, participada. Uma associação prestigiada, mas pequena (em número de sócios efectivos, com as quotas em dia), e com muito escassos meios (logísticos, financeiros, humanos), como a nossa, tem na sua revista a principal razão de ser. Por isso essencialmente lutamos pela SPAE - para mantermos esta publicação, que julgamos ser importante. E que não está aberta apenas a trabalhos de antropologia, como o seu título tradicional, que mantemos, parece indicar, mas a estudos e ensaios interessando ao vasto campo das ciências sociais e humanas, como o sub-título claramente aponta. E como este tomo mais uma vez comprova... Cremos que este é um espaço de rigor, mas também de tolerância, de isenção, de abertura a autores mais jovens, que as pessoas podiam apro-veitar melhor... e a direcção dos TAE e da SPAE está receptiva, como sempre, a sugestões e a propostas de publicação. Entrámos no séc. XXI (já em 1989, com a queda do muro de Berlim?) e assistimos à generalização do terrorismo, mas í:ambém da guerra, da violência, da insegurança, e de muita hipocrisia nas relações internacionais e nos meios de comunicação. As desigualdades e o ressentimento alastram de modo terrível, insuportável. É possível distinguir a realidade da ficção? Temos de optar por um de dois campos, maniqueisticamente identificados com o bem e o mal? Um cidadão ruandês morto tem o mesmo lugar, nos meios de comunicação, de um norte-americano? Quem anda a produzir e a vender armas a quem? Quem ganha com tudo isto? Há ainda palavras para exprimir a nossa surpresa e a nossa revolta por tanta injustiça que está a acontecer, por tanta incompreensão mútua, por tanta crispação irreversível, por tanta falta de respeito pela cultura e pela dignidade do Outro?... Qual a nossa responsabilidade como investigadores, como pessoas que pensam o fenómeno humano e social? Devemos circunscrever-nos aos nossos trabalhos académicos, às nossas aulas, enquanto sentimos que o mundo se desmorona à nossa volta?... Que é que temos de fundamental para dizer aos nossos alunos? Quais são as utopias possíveis, neste estado de conster-nação e de perplexidade? Que é que cada um de nós pode fazer, sobretudo quem é professor, quem contacta com jovens, quem é visto por eles como alguém de quem se espera um exemplo de conduta, um modelo de comportamento (mesmo que seja para o negar)? Quando muitos perdem a serenidade, manter a calma é uma mais-valia. Quando muitos se ocupam com interesses ligados ao poder, a influências, à imagem, a clientelas, a objectivos materiais, é maravilhoso ter ainda o poder de ler, de pensar, de propor ideias, de escrever, de nos informarmos com tempo e recuo reflexivo, de mergulhar na música ou na pintura, de olhar para as paisagens de outono, de trocar impressões com os outros, sem os querer convencer de nada, sem os querer colonizar, sem os querer absorver a nós. É maravilhoso podermos surpreender-nos com o radicalmente dife-rente, e tirarmos prazer dessa variedade. De trabalhar com uma certa satisfação e alegria. De estar perante uma página branca, e de ver nela nascer qualquer coisa que o nosso traço vai esboçando. Ter satisfação com o que se faz, e ver o produto do que se faz crescer ao longo do tempo, neste mundo desalentado e depressivo, é uma oportunidade incrível. Ser humano entre seres humanos, apesar de tudo. É evidente que, para ter condições de serenidade e de fruição destes bens e valores, é básico dispor de um mínimo de possibilidades materiais. Estas são sobretudo óptimas para não termos que pensar demasiado nelas, para irmos ao mais importante; e, com algum talento e bastante aplicação, do pouco fazer muito. Que o novo triénio de trabalhos da SPAE e desta revista (2002-2004) seja animado por este espírito optimista e construtivo. Porto, Novembro de 2001 Vítor Oliveira Jorge |
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Preâmbulo Anthropologie des conduites a risque des jeunes generations David Le Breton Usages seculiers des reves chez les adolescentes dans l 'appreciation du risque Hakima Ait El Cadi Academia y gestión antropológicas: un lugar impreciso Beatriz Kalinsky Arquivfstica, biblioteconomia e museologia. Do empirismo patrimonialista ao paradigma emergente da Ciência da Jnformação Armando B. Malheiro da Silva Artes da espera. A pesca da lampreia na foz do Cávado Álvaro Campelo Honra-vergonha: c6digo cultural mediterrânico ou forma de controlo sócio-político das mulheres? Manuel Carlos Silva Leer el mito, comprender el mundo: organización del entorno en la cosmovisión puneila Gabriela Morgante Epistemologia evolutiva, etnociência e ética: ensaio para uma ecologia do conhecimento Marina Prieto Afonso Lencastre La domestication du monde: penser en commun ['Europe neolithique. Projet de table-ronde Vítor Oliveira Jorge 0 museu e um mundo, o mundo e um museu Vítor Oliveira Jorge 0 Prof. Santos Júnior, ilustre Presidente da Sociedade Portuguesa de Antropologia e Etnologia (Homenagem a sua memória no Centenário do seu nascimento) Abel S. Tavares VÁRIA Margot Dias (1908-2001) Jorge Freitas Branco A meta-poesia de Vítor Oliveira Jorge: a prop6sito de Os Ardis da Irnagern Fátima Vieira |